sábado, 26 de abril de 2008

A TARDE

Como é de se imaginar aqui dentro do peito jaz uma rosa de Guadalupi, os espinhos machucam e a ferida se abre completamente fazendo com que eu padeça sobre o pé da cama. O difícil não é conviver com essa rosa no peito é saber que os espinhos dela ainda estão lá e estarão por algum tempo porque permaneço como jardineiro fiel a ela. No escuro de uma noite fria avistei uma luz fosca que me fez entender que ali eu poderia ter um pouco de calor se a seguisse então sem entender o sentido da busca por ela fui até conseguir toca-la, acordei todo molhado de suor e com palpitações aceleradas, fui até a cozinha e tomei um gole d'água e me coloquei a refletir sobre o sonho, adormeci novamente. Quando acordei na manhã seguinte o sol queimava minha cara, estava capotado no chão da cozinha com a janela aberta, resolvi que aquele seria o último dia que viveria com aqueles malditos espinhos no peito, saí de casa e fui até a casa dele, olhei bem no fundo dos olhos e me mantive intacto diante da situação, dei um sorriso largo, cheio de vida e voltei pra casa, no final da tarde recebi rosas e um cartão, coloquei no vaso e percebi que eram sem espinhos, estavam cheirando a ele...

Um comentário:

Marcos disse...

Como disse,
Seu conto é triste, mas lindo lindo. Principalmente quando o eu-lírico (rs) acorda no chão no dia seguinte mesmo tendo ido dormir (ou achado que foi dormir). Cultivar flores e espinhos é minha maldição. Particularmente eu acho que você tem evoluindo horrores nos seus contos.
Beijo grande!