sábado, 21 de junho de 2008

A PATOTINHA

A PATOTINHA

Quando a gente é criança sempre a gente pode tudo, cagar nas calças, mijar no portão da vizinha, apertar a campainha e sair correndo ou simplesmente não brinco mais. Quando somos criança desfrutamos muito de nossa inocência, gritando com papai e mamãe, roubando o chocolate do amiguinho, criando a famosa patotinha e excluindo os menos populares da escolinha, mais aí... a gente vira adolescente e algumas coisas tendem a mudar, a gente começa olhar diferente para as pessoas, analisar mais detalhadamente seus aspectos positivos e negativos, começamos a olhar com desejo e ficamos morrendo de vergonha que a pessoa desejada descubra, mas aí ela descobre e pior, também estava te olhando e você nem percebia. Começa uma fase de sensações únicas que só quando ficamos velhos nos damos conta de como era boa essa fase, mas dentro dela também existem os maiores conflitos talvez de nossas vidas, a impaciência é constante, você se acha o dono do mundo e sabe aquela garota que te deu mole, muita das vezes é a grande causadora do afastamento de seus melhores amigos, é tudo muito desigual mais isso você só aprende com o passar do tempo. Começam os trabalhos, a maturidade chega e você tem que entrar na ilha dos sobreviventes e olha que não é Lost mais nem por isso não quer dizer que o avião não vá cair, sua meta é nunca deixar ele sair do espaço porque senão você cai junto com ele e se ferra. Amigos voltam e começam a trabalhar com você, no começo é tudo lucratividade, mas depois os interesses de cada um vão se sobressaindo até que a gente descobre quem é nosso amigo de verdade, a patotinha se arma novamente e aí é que a gente enxerga quem realmente se interessou por você e quem te levou pra boca do corvo pra dar um passeio na miséria da incapacitação de não saber entender o porque daquilo e olha, é de mastigar adubo. Parece que quando a gente cresce não pode mais nada, não somos mais inocentes, ficamos uma espécie de robô programado pra acordar o mais cedo possível no dia seguinte, como era bom ser criança, como era bom poder ter olhos selvagens de desejo, como é péssimo ficar brigando por posição no trabalho, seja em qual área for é o mesmo que perder antecipadamente sua velhice, seus bons momentos é deprimente ter o sentimento de grandeza quando não se é um nada e o pior, quando você sabe que está errado. Chega ser infantilidade e olha, que dessa fase, você já passou. E talvez quando fiquemos velhos entendamos todo o significado dessa grande coisa que sempre se procria e que sempre, é a mesma coisa.

sábado, 7 de junho de 2008

A ESPOSA E O AMANTE FIÉL

Acabara ali, pra Natércio o mundo girava de ponta cabeças em seu estomago, a sensação era da mais pura impotência seguida de ânsia repetitiva, não tinha mais como ser a outra metade da relação, os outros tempos falariam mais alto.Em um dia tempestuoso de julho Natércio corria feito gato com medo de água pela orla da Marina da Glória procurando um abrigo pra se proteger da chuva ácida da capital carioca, entrou dentro de um barzinho da orla aos pulsos acelerado quando a chuva caia ainda mais feroz e autoritária. No bar os homens jogavam bilhar e as mulheres fumavam feito chaminés de usina, enquanto conversavam da vida, Natércio procurou uma mesa mas estavam todas servidas de pessoas, ficou ali esperando a chuva passar. Passou uma, quase duas horas quando a água já estava se acalmando, Natércio viu um rapaz correndo em sua direção fugindo da chuva, entrou completamente molhado no bar, fadigado e tossindo aos berros, a chuva ficara ainda mais nervosa.Pedro estava diante de Bárbara lhe pedindo as mais esfarrapadas desculpas de um homem digno de pena aos prantos dizendo que não tinha a menor idéia de como aquela marca de batom tinha ido parar na sua camisa de linho azul, Bárbara tinha a mais absoluta razão de estar a beira de um colapso nervoso e só queria que Pedro fosse embora da sua vida e nunca mais voltasse, foi quando bateu a porta na sua cara. Ali diante daquele mar azul pensou em nunca mais querer saber de Bárbara, saiu sem rumo e caminhou feito um nômade pelas ruas cariocas, sentou em um banquinho a beira mar e chorou feito um menino que deixa cair o doce no chão sujo, começou a chover e Pedro voltou e se abrigou em um quiosque na praia. Passadas quase duas horas ele decidiu sair e voltar pra casa mais a chuva não dava moleza naquele dia então correu em direção ao barzinho de bilhar.Natércio olhou o estado do homem e pediu para que sentasse a com ele no balcão, pediu dois copos com conhaque, acalmaria o frio.Pedro aceitou a cordialidade do homem desconhecido e tomou o conhaque em um só gole, pedindo outro logo em seguida e outro logo mais, a chuva já tinha se dissipado mais ele não queria mais sair de lá, precisava afogar suas mágoas.Natércio bebia com o novo amigo e a noite chegara como uma nuvem que se esvai no céu, Pedro estava aos soluços e começou a querer desafiar os homens do bar dizendo que era homem e que um dia as mulheres deles irão os deixa-los porque são todas umas mal amadas, foi quando começou o tumulto. Um homem com um taco de bilhar acertou Natércio que foi a lona sem dar um só golpe, Pedro arrastou o amigo pelo colarinho e sairão do bar aos tapas e ponta pés, Pedro levou Natércio para casa dele que era perto da orla, chegaram bêbados e rindo do acontecido no bar. Os olhos de Pedro pareciam se camuflar olhando para Natércio que ria de tudo que ele dizia, sentiu uma vontade inexplicável de beijar aquele homem que acabara de conhecer, aquele homem, logo pensou que nunca sentira esse tipo de vontade antes e o que aquele homem tinha de diferente dos outros, seria a carência de Pedro que tivesse feito com que olhasse para Natércio com outros olhos, não queria saber. Pedro pegou Natércio pelo braço e começou a beija-lo ferozmente como quem não quer que a noite termine mais, Natércio correspondeu a Pedro e os dois começaram a tirar suas roupas úmidas com as mãos e com a boca, foi ali mesmo no sofá, não queriam se largar por nada e amanheceram juntos na sala.O telefone tocou por volta das oito e meia da manhã, Pedro acordou afobado e atendeu, era Bárbara pedindo pra ele ir até a casa dela, quando olhou pela sala viu o corpo nú de Natércio deitado no sofá, sentiu um arrepio seguido de arrependimento, sua noiva querendo voltar com ele e ele transando a noite toda com um homem que conhecera no dia de ontem. Pedro acordou Natércio que sorria incansavelmente pela noite que tiveram juntos, Pedro se trocou e disse que precisava sair, Natércio sentiu um fio de peso na fala de Pedro e trocou-se também. Os dois sairão do apartamento sem se falarem muito mais pra Natércio já estava tudo entendido, tinha passado a noite com um homem bêbado e extremamente heterossexual, disseram adeus um para o outro e seguiram suas vidas. Pedro voltou para Bárbara. Passados dois anos depois da noite de Natércio e Pedro um encontraria o outro e em situações semelhantes.Pedro saira mais cedo do trabalho naquele dia, passou na padaria comprou pão e foi pra casa.Natércio estava ganhando muito dinheiro no novo emprego, e saia todas as noites com homens e mulheres diferentes, era um galanteador nato.A vida de Pedro estava mesquinha, a mulher não era mais como antes, o fogo tinha se apagado e ele ja não recebia mais tantos carinhos como antes, quando chegou mais cedo naquela noite ele notou que a luz do quarto estava acesa entrou de mansinho e flagrou Bárbara na cama com outro homem, a meia luz deixava seus olhos embaçados então á acendeu, era Natércio entre as pernas de sua mulher que gemia feito uma vaca holandesa, os dois se separaram e tudo ficou vermelho. Natércio olhou para Pedro e Pedro não acreditava que aquilo estava acontecendo diante de seus olhos, jogou o pão no chão, voltou para sala, pegou uma arma calibre trinta e oito subiu no quarto e deu três tiros em Barbara, pegou Natércio pelo braço e o colocou dentro do carro, aos berros de como você pode fazer isso comigo, Pedro jogou o carro em cima de um poste, tudo ficou preto. Natércio morreu naquela noite chuvosa, tinha acabado ali suas expectativas de vida, Pedro sobreviveu mas ficou paralítico, entrevado em uma cadeira de rodas para o resto de sua vida e até hoje quando passa pela orla olha para o céu e sente que vai chover, então volta pra casa, deita e dorme pra esquecer de seus crimes que pela policia nada foi provado e de Natércio, que não queria tê-lo conhecido nunca, o causador da sua dor e do seu amor.